Da ditadura da magreza à ditadura da comida industrializada, somos eternas prisioneiras das escolhas alheias
Há poucos dias acompanhei pelo Instagram o relato da nossa querida colega AnaLu sobre a eterna cobrança da sociedade pelos padrões de magreza. Sim, estamos em 2017, mas ainda somos obrigadas a lidar com isso. Ela contava que, por uma questão de saúde, precisou se submeter a uma dieta, mas poucos preocuparam em saber as razões pelas quais emagrecia. Todos se concentraram em elogiar suas novas formas, condizentes com as expectativas sociais.
Nessa hora não tive como não me lembrar da minha adolescência, época em que eu ainda tinha poucas informações sobre tudo e, ao mesmo tempo, era bastante suscetível a críticas. Precisei tomar remédio para tratar pequenos cistos no ovário (anos depois soube que a principal causa disso é a alimentação industrializada) e acabei engordando vários quilos.
A cobrança foi imensa para voltar ao meu peso de antes. Ah, os absurdos que as pessoas disseram porque eu não estava no peso que julgavam correto! É surreal o pouco cuidado que elas têm com nossos sentimentos. A gordofobia é um mal instituído socialmente.
Sem muita informação, acabei embarcando nas primeiras dietas malucas. Mas nunca conseguia manter o peso. Foram dois anos nessa gangorra até finalmente, depois de “carinhosamente” ser chamada de leitoa, buscar o apoio de um médico homeopata para emagrecer. Foi a primeira vez que soube o que era reeducação alimentar e que os novos hábitos precisavam ser mantidos para a vida toda.
Depois de sair do Ensino Médio para estudar Turismo, emagrecer acabou sendo uma consequência natural do meu novo estilo de vida. E, junto com a reeducação alimentar, a comida - que havia virado uma compulsão nesses dois anos -, deixou de ser um problema. Meu lema passou a ser o equilíbrio, e minha tática para manter o peso passou a ser inserir mais comida saudável em vez de simplesmente cortar o que gostava.
Hoje, analisando esse longo caminho, penso que de um modo geral tendemos a cair em dois tipos de armadilha: ceder à cobrança social e nos sujeitarmos às dietas malucas, aos transtornos alimentares, ao vício em atividades físicas ou, do lado oposto, rejeitarmos totalmente esse modelo e acabarmos por, da mesma forma, negligenciar a saúde, optando pelos apelos e comodidades da indústria alimentícia e submetendo nosso organismo aos alimentos ultraprocessados, cheio de conservantes e gorduras ruins.
Tenho a sensação de que nosso destino é sermos eternas prisioneiras de um padrão alimentar imposto de fora. Pense sobre isso. Quando você decide se esbaldar num sanduíche do Burguer King, você realmente está fazendo isso para combater a ditadura da magreza e fazer o que tem vontade? Ou, sutilmente, está sendo guiada pela propaganda? Nosso paladar foi moldado pela indústria de forma tão sutil que hoje é muito difícil combater isso.
O tema é complexo, não sou especialista no assunto, então voltemos ao foco principal. Como sair desta armadilha? A resposta creio que encontrei na Yoga, mas confesso que o caminho não é nem simples e muito menos rápido. Ainda estou bem longe do que acredito ser o melhor para mim, mas tenho me empenhado todos os dias a aprender mais. Continuo sendo adepta do equilíbrio entre a saúde e os prazeres da mesa - amo pizza, macarrão e vinho! -, mas cada vez mais tenho pensado sobre minhas escolhas alimentares.
No ano passado tive o prazer de ter um módulo sobre isso no curso de Yoga que abriu meus olhos. No mesmo dia em que assisti esse módulo precisei ir para a casa fazer um almoço rápido e acabei optando por uma macarronada prática (e gostosa), que me deixou empanturrada, pesada e lenta todo o resto do dia.
Me perguntei se não teria sido mais inteligente escolher algo leve que me permitesse ter energia para enfrentar o resto do dia que ainda tinha pela frente. O mesmo pensamento tenho hoje em dia quando excedo na bebida alcóolica. Me sinto livre e sem culpa para tomar meus goles de vinho, mas o prazer do momento raramente tem compensado o transtorno do dia seguinte - é, minha gente, a idade pesa!
Nutrição não é só sobre o corpo, é especialmente um assunto que se refere à alma. Temos de procurar ficar bem em todos os sentidos: nutricionalmente, emocionalmente e espiritualmente. É preciso buscar alimentos que não apenas nutram e fortaleçam o corpo, mas que também não causem ainda mais danos à natureza e nem provoquem o sofrimento dos animais (é uma frase linda mas, creiam, estou bem longe da meta!). Quem ler livros como “Nutrição Espiritual” e “Lugar de Médico é na Cozinha” vai entender um pouco do que estou dizendo.
Não gosto de regras quando o assunto é alimentação, pois o que funcionou para mim provavelmente não vai funcionar para outra pessoa. Mas acho sempre importante analisarmos bem de onde vem as grades que nos mantêm presas a padrões destrutivos.
Temos de combater a ditadura da magreza, a ditadura dos músculos, a ditadura da alimentação industrializada. E fazer escolhas verdadeiras sem preocupar se isso vai resultar ou não no corpo de Juliana Paes. Vejo na Yoga mulheres lindas, de bem com a vida, muito distantes dos padrões de beleza, mas que se preocupam em escolher tudo aquilo que proporciona grandes ganhos com poucos impactos. Creio que este é o melhor caminho.
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