Dizem que a prática de atividades físicas é uma boa terapia e cada vez mais me convenço disso. Não só porque tira o foco momentaneamente dos nossos problemas, mas porque muitas vezes torna clara a face menos amigável da nossa mente. É no momento de desafiar o corpo que aquela voz insistente fala mais alto. Grita, berra. Tenho notado isso desde que comecei a terapia e a yoga.
Quem se desafia a correr uma maratona ou aprender uma postura difícil da yoga sabe disso. A mente gosta de dizer que é hora de parar quando ainda estamos no auge da nossa energia. De nos encher de questionamentos inúteis, como "qual o sentido disso tudo". Tenho altas crises existenciais quando estou me exercitando com mais afinco, do tipo: "para quem estou fazendo isso?" "Por que estou aqui sofrendo?" "Qual a finalidade?".
Pensei muito sobre isso nesta segunda vez em que mergulhei no mar com cilindro, na viagem que fiz a Fernando de Noronha. Foi um desafio depois que a primeira vez em Maceió, há dois anos, deixou lembranças de angústia. Embora não seja claustrofóbica e já praticasse yoga e terapia na época, fui dominada pelo pavor de ficar sem respirar.
Detalhe: o mergulho não era superior a 10 metros de profundidade. Ou seja, se tudo desse errado - o ar do cilindro acabasse, o tubo se rompesse, o professor desmaiasse, ou qualquer “desastre” do gênero -, eu poderia rapidamente subir à tona e respirar. Simples assim.
Mas a danada da mente fica dizendo o contrário. Ela te enche de medos irreais.
Percebi isso muito claramente nesse segundo mergulho. Apesar da ansiedade de ver os cardumes, peixes e arraias, entrei levemente em pânico pouco antes de entrar na água. Ninguém notou, mas eu estava petrificada. Cogitei, por um brevíssimo instante, desistir. Só pensava no que poderia dar errado.
Fui observando tudo que a minha mente gritava e, pouco a pouco, derrubando todos os seus argumentos falsos. O oxigênio era suficiente para uma hora e eu só mergulharia por meia. Estava acompanhada de uma instrutora profissional. Meu namorado estaria também por perto observando. O mergulho não era tão profundo. Eu já havia me habituado com a respiração pela boca ao usar o snorkel. Tudo favorecia. Não tinha o que temer.
Então, pouco antes de me chamarem para o salto na água, eu já estava mais calma. Entender o funcionamento da mente foi fundamental nessa hora. Imagino quantas coisas não deixamos de viver porque a mente manda recados errados. Ao entrar na água, minha única preocupação foi manter a respiração controlada e observar tudo o de maravilhoso que se passava diante de mim.
Não nego, ainda assim foi difícil. A mente nos vê feliz e de repente quer nos surpreender com um pensamento torto. Mas eu não desisti. Até porque tudo era lindo demais! Por isso tive uma alegria - boba, confesso - quando fui buscar o meu certificado de batismo de mergulho. Algo totalmente sem validade prática, mas que ressaltava o “espírito de bravura” do mergulhador.
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