Acredito cada vez mais em sincronicidade. E tive uma pequena mostra disso mais uma vez quando deixei uma responsabilidade de lado - no caso, o curso de inglês - para assistir ao filme Como Nossos Pais. Havia terminado de escrever o texto para este blog quando fui ao cinema. Logo, fui obrigada a reescrevê-lo.
Mas o tema de hoje não é sincronicidade. É fuga. É aquele desejo tão comum às mulheres de jogarem tudo para o alto. Em 1879 Ibsen escreveu uma peça sobre isso, Casa de Bonecas. O filme a menciona algumas vezes e revela o final: Nora abandona o roteiro normal de uma esposa da época e segue sozinha rumo ao desconhecido. Não é ainda hoje o desejo de tantas mulheres?
Esta não é uma postagem evoluída, mas antes muito sincera como o filme foi. Me ocorre bem pouco, mas também sou surpreendida às vezes pelo desânimo, apatia, ansiedade e crises existenciais. Por isso fiquei tocada ao ler esse trecho de “A Ciranda das Mulheres Sábias”, da Clarissa Pinkola Estés.
“Vamos planejar e cumprir nossas fugas do que é morbidamente banal, bem como do que é cronicamente vazio e brutal.”
Fuga
Confesso que sempre fantasiei muito com fugas. Fazer as malas e fugir de casa - quantas vezes não quis isso na minha infância? Algumas vezes cumpri o plano - mas não passei da esquina mais próxima. A fantasia, contudo, nunca morreu.
Tenho ainda vontade de fugir quando não vejo sentido no que estou fazendo e, ao mesmo tempo, não encontro um bom motivo para o ponto final. Diante do impasse, a fuga. Não seria perfeito? Simplesmente ir sem deixar bilhete, sem dizer adeus, sem confessar o destino, deixando em aberto a possibilidade de retorno.
É um desejo secreto meu a fuga sem volta. Mas esse texto ainda não é sobre uma fuga definitiva como a de Nora. Quero falar daquela fuga que indica mais uma pausa. Tenho vontade de fugir quando a realidade, por mais banal que seja, está por demais opressiva para mim. Como responder à altura? Eu não sei. E tenho vontade de fugir. Ainda que momentaneamente.
Já usei o recurso da fuga em alguns momentos difíceis da vida. Sei que não foi a melhor solução porque, se temos de voltar, os problemas nos esperam pacientemente. Mas posso dizer algo? É preciso respeitar nosso momento de indecisão.
A pausa dramática é um recurso válido quando se está prestar a reagir em um impulso qualquer. Podemos respirar. Podemos parar e sentir o que acontece dentro da gente. Podemos analisar com calma. E podemos então decidir.
Foi aí que as palavras da Clarissa me tocaram tanto. Porque ela me dá o direito de planejar a minha fuga - mas também usar o tempo a meu favor para saber a hora do ponto final.
Vamos planejar - e cumprir! - as nossas fugas. Não daquilo que é essencial, do que devemos manter e cuidar. Mas tão somente do que é banal, vazio e brutal.
É do que vale a pena fugir.
Fotos: Pixabay
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