Vamos fazer de conta que o ano está prestes a começar. Dezembro chega e com ele toda a correria do Natal, e você pensa na agenda que vai comprar e nos planos e promessas que pretende cumprir. "Dessa vez vai!" - grita uma voz dentro de você.
Porém, se você é como eu, do tipo procrastinador, 99% do que planeja mal sai do papel. Aliás, mal chega no papel. Não dá tempo. Antes mesmo de achar um tempinho para escrever, as ideias já se esvaíram. E o pobre coitado do ano, feliz por poder começar do zero, já se vê todo atarefado, cheio de coisa por fazer. A gente peca é pelo excesso.
Tanta coisa por fazer nos deixa malucos e não é à toa. Ninguém funciona bem se está sobrecarregado. Muitos planos, muitas tarefas, trabalho demais, comida demais, tudo isso gera um estresse que, óbvio, não faz bem ao corpo nem à mente. E foi na tentativa de reduzir a fatiga mental que aderi ao Bullet Journal.
O que é esse tal de bullet journal?
Em uma tradução livre, bullet journal é um diário de símbolos. Um sistema tão simples, mas que ninguém havia pensando em estruturar - e registrar a marca - como fez o norte-americano Ryder Carroll. O criativo mal podia imaginar que uma ideia tão descomplicada iria revolucionar o modo como milhares de pessoas se organizam no dia a dia. De acordo com seu site bulletjournal.com, Ryder diz que o diário de símbolos é um sistema analógico em uma era digital.
Como eu disse, o bullet journal parte de um pressuposto muito básico no qual você precisa de um caderno e uma caneta. Aí você anota o dia, mês, e vai anotando seus compromissos e tarefas. Toda vez que realizar a tarefa descrita, faz um risco informando que foi completada. E pronto. O que não deu para fazer hoje, vira tarefa do dia seguinte.
Apesar de parecer bem simples, quando você decide acessar o site do sistema para entender tudo melhor, vai por mim… você vai ficar confuso e achar que tem informação demais. Tudo piora quando se descobre que existem milhares de diários cada um mais lindo que o outro. Onde é que essas pessoas arrumam tempo para serem tão criativas e talentosas?
Foi exatamente isso que aconteceu comigo. Uma colega mencionou o bullet journal um dia e eu não dei muita moral. Achei difícil seguir à risca o jeito que ela me ensinou. Mas foi num dia qualquer que não me lembro quando, que vi alguém divulgando a foto de uma página de seu diário. E aí eu me apaixonei. Busquei dezenas de inspirações no Pinterest, passei longos minutos assistindo a vídeos no Youtube e quando me dei conta já estava viciada. Efeito arrebatador das mídias sociais e suas tendências que se espalham feito gás.
Não demorou muito para que eu começasse a sonhar com um Moleskine novo. Depois de algumas pesquisas, no entanto, acabei sendo convencida de que o melhor caderno para a prática não é o Moleskine, coitado, e sim o Leuchtturm1917 tamanho A5, pontilhado. Olha aí o poder da propaganda disfarçada de resenha não-patrocinada! E, além do caderno caríssimo, fui convencida de que existem canetas tão incríveis que são capazes de quase me transformar numa ilustradora de mão cheia.
Calma lá! Posso ter sido muito influenciada, mas não sou doida a ponto de gastar todo meu dinheirinho suado em canetas e cadernos superfaturados. Como sempre dou meu jeitinho de economizar, fui ao um supermercado famoso por vender coisas com qualidade razoável e preço bem mais em conta. Comprei um caderno comum, sem pauta, por 2.99 euros. Gastei um pouquinho a mais nas canetas, mas fiz questão de comprar uma que fosse excelente e não manchasse o papel. No entanto, ao invés de começar a fazer o tal do bullet journal, eu me perdi em meio a tantas possibilidades criativas que aquele novo hobby oferecia. Demorei umas duas semanas só ensaiando.
Hei de concordar que a melhor sugestão é: não se preocupe com o caderno ou com as canetas. Faça que nem o Ryder Carroll diz: pegue um caderninho qualquer e comece agora. Afinal, a melhor forma de pegar jeito, é praticando. E foi o que fui fazendo ao longo do mês de fevereiro. O ano já havia começado, mas isso não é uma limitação. A ideia é poder começar no mês e dia que você quiser. Não tem problema pular algum dia, ou vários. A regra é começar e manter uma consistência necessária para que você pegue jeito e descubra o que funciona melhor para suas necessidades.
Vamos falar sobre saúde mental
Em uma de minhas pesquisas, vi que muitas pessoas usam o método para fazer um registro da saúde mental. Basta procurar no Pinterest, por exemplo, que dezenas de opções vão aparecer. A ideia é manter um registro de como o humor oscila durante o dia. Eu fui mais além e transformei meu caderninho em um diário. Escrevi todos os dias durante 5 meses. E foi uma delícia de exercício.
Não estou dizendo que o bullet journal é a cura para doenças mentais. Meu ponto aqui é dizer que no meu caso, a técnica de escrever todos os dias tudo o que estava na minha cabeça, me ajudou muito a “esvaziar” minha mente. Eu precisava de uma válvula de escape e essa me serviu muito bem.
Mas eu falhei. Não dei conta de continuar. Junho chegou e com ele chegaram minhas crises de ansiedade e acabei me perdendo de mim mesma. De novo. É muito fácil fracassar. O mundo anda tão rápido e nos forçamos a ficar de pé quando na verdade só queremos descansar. Mas isso é assunto para outro post.
Vale a pena ou não?
Apesar de não ter funcionado comigo do jeito que eu esperava, o bullet journal é maravilhoso. Indico a todos que queiram se organizar um pouco mais. Seja qual for a sua necessidade, de saúde mental a um simples sistema para anotar compromissos, garanto que vai ser uma experiência enriquecedora.
Deixe de lado a preguiça, sacode a poeira e comece a mudar sua vida a partir de agora. É o que vou fazer nesse instante… recomeçar. Às vezes a gente só precisa parar, respirar, e força na peruca!
Achei bem interessante. O Bullet estabelece uma ordem, ou uma ideia de ordem, no Caos diário. Percebi as muitas vantagens do método. Não é fácil, como você mesmo alertou, mas vale a pena tentar.
ResponderExcluir( Seu texto está leve, claro, gostoso de ler. Amei).