Sempre me questiono por que escrevo o que escrevo e, mais ainda, por que publico textos pessoais. Autocensura aqui é mato, viu?! Dra. Jane já se cansou, acho, de ouvir essa velha ladainha no divã:
— A impressão que tenho é que vou me expor e, além disso, as pessoas podem interpretar como vitimização. — A partir do momento que você escreve o texto, ele não é mais seu, é do leitor. O que as palavras causam não tem a ver com o autor, mas com a história de vida do receptor. As pessoas podem escrever algo formalmente perfeito e isso não tocar ninguém, ao passo que um material mediano pode ser extremamente bem aceito. Tudo depende de quem o interpreta.
Legal ouvir isso. Acho que tira um peso dos meus ombros, ou melhor, dos dedos que aqui digitam algumas linhas.
Mas a hesitação e a dúvida sempre voltam. Será? Será? Continuo? E daí aparece um conselho de uma amiga:
— Tem tanta bobeira nas redes sociais, muito bom quando aparecem coisas que edificam a gente.
Tá, continuo, mas antes vou pra "caverna de Elias", me fecho, me questiono, me entristeço às vezes. Daí depois de um tempo saio, respiro fundo, me empolgo, escrevo de novo, publico e …. volto pra “caverna de Elias”, me fecho, me questiono, me entristeço às vezes… há mais de 30 anos.
Há mais de 30 anos. Interessante é também se autoconhecer e, mais do que isso, se aceitar. Tô neste processo. Entre tudo o que poderia ser nesta vida, sou jornalista e sei que não por acaso. Entre tudo o que poderia escrever, gosto de retratar emoções, e hoje sei também que não por acaso. Vulnerabilidade. A compreensão deste termo, ao longo do tempo, se torna mais fácil:
… as outras pessoas devem achar cura em (nossas) feridas… a vulnerabilidade liberta emocionalmente… quando nos abrimos, aliviamos a tensão e dissipamos nossos medos.Uma vida com propósitos, Rick Warren.
Vulnerabilidade no TED
E foi justamente depois que comecei a publicar alguns textos pessoais no blog O lado bom da vida e, mais recentemente, aqui no Melhorada Mente, que me deparei com um vídeo bem conhecido na internet – a palestra da pesquisadora Brené Brown durante a série de conferências TED X Houston em 2010.
Minto. Na verdade, não encontrei por acaso, foi minha irmã do meio, a Renata, que me deu o toque. “Que lindo, isso, Cacá! Você está se abrindo; você está sendo vulnerável”, disse logo depois de ler um dos textos que eu havia escrito sobre o autismo. Em seguida, encaminhou pro meu WhatsApp o link da palestra da Brown, intitulada O Poder da Vulnerabilidade.
Embasbacada é o mínimo que posso falar sobre como fiquei após assistir a conferência. “Caramba, como ela é intensa! Caramba, quantos conceitos! Caramba, tenho que ver depois com calma e não nessa correria, entre um intervalo de uma terapia e outra do João Lucas”.
De forma bem resumida, (porque, pode ter certeza, vale a pena você gastar 20 minutos do seu tempo com este vídeo), Brown nos conta sobre uma pesquisa que perpassa temas como sentimentos de vergonha, medo, coragem, vulnerabilidade e conexão humana. Durante suas entrevistas, ela diz ter encontrado dois grupos de pessoas: aquelas que tinham um forte senso de amor e pertencimento e aquelas que ainda lutavam por isso.
Brown resolveu se aprofundar no primeiro grupo. E o que ela descobriu? Que ser vulnerável conecta as pessoas mais do que se pode imaginar. E mais: quando resolvemos paralisar nossa vulnerabilidade, por medo ou vergonha de julgamentos alheios, anestesiamos também sentimentos bons, como alegria, espontaneidade e criatividade.
“Putz, parecia a Dra. Jane me falando: Carla, quando você não quer sentir coisas ruins, você acaba abrindo mão dos sentimentos bons também, eles ficam aprisionados dentro de você”.
“Ah, agora entendi porque a Renata me mandou este vídeo. Talvez eu esteja deixando de lutar contra a vulnerabilidade para aprender a abraçá-la”.
Vulnerabilidade? Escrever sobre mim? Será? Ok, continuo, mas antes vou pra “caverna de Elias”, me fecho, me questiono, me entristeço às vezes. Daí depois de um tempo saio, respiro fundo, me empolgo, escrevo de novo, publico e… volto pra “caverna de Elias”, me fecho, me questiono, me entristeço às vezes… há mais de 30 anos.
Mas, quer saber? Vou continuar a me arriscar e a sair da “caverna de Elias”. Pelo menos aqui, uma vez por semana, rsrsrs.
Texto escrito em fevereiro/2017, porém ampliado e reeditado para o Melhorada Mente.
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