Não precisa ir muito longe para fazer um diagnóstico meio que precoce. Basta olhar alguém da sua família ou aquele colega de trabalho. Estão todos doentes. Todos com algum problema, alguma reclamação, alguma coisa que incomoda. É uma luta diária sobreviver nesta terra de gigantes, não é mesmo?
Agora que passei dos 30, posso dizer com certeza: de médico e psicólogo todos temos um pouco. E, mesmo não sendo nenhum nem outro, vim compartilhar minha experiência com ambos.
Esse é um texto que só é possível de ser escrito após eu ter vivido muitos anos. Acho difícil alguém mais novo conseguir olhar para a vida com os mesmos olhos (se você tem mais de 30 deve estar pensando: “essa menina ainda tem muito para aprender, tadinha”). E, mesmo sem querer ser piegas, mas já sendo, quero deixar claro que tudo é resultado do jeito meio errado que olho ao meu redor. Eu não sei de nada, portanto não me leve tão à sério.
A maternidade me ensinou muita coisa
Foi só depois de ter meu segundo filho que comecei a observar melhor a minha saúde mental. Não fui criada e nem educada para entender muito bem de problemas relacionados à mente. Minha família não é lá tão ligada em “estamos todos mal, vamos buscar ajuda com um psicólogo”. Mesmo assim, fiz acompanhamento com duas psicólogas enquanto morava no Brasil.
Uma foi quando morei em Palmas, no Tocantins. Em meio à faculdade de Jornalismo e meus relacionamentos conturbados na época, o que eu mais precisava era de ajuda para dar conta de tudo. Tive outra psicóloga anos depois, quando passei por um divórcio bem dolorido. Eu não preciso entrar em muitos detalhes aqui, mas nas duas situações foi muito importante ter ajuda de um profissional. Familiares e amigos são um excelente suporte, mas podem estar carregados de amor, ódio e preconceitos que nem sempre ajudam a aliviar a dor.
E não é por mal. Já que de médico e psicólogo todos temos um pouco, em situações dolorosas como um divórcio, por exemplo, o que mais aparece é gente tentando ajudar. Mas palpites não resolvem tudo. No meu caso, por exemplo, sou do tipo reservada e não gosto de compartilhar meus sentimentos. E o ato de guardar para mim tudo que sinto, vai criando uma bola de dor e mágoas que pode até ser cancerígena. Isso é o que dizem, né? Mas mesmo assim ainda corro dos palpites.
Pois bem… depois de ter ganhado meu segundo herdeiro, sofri com o tal do baby blues que nunca foi embora. Ou que ia, mas que voltava. E entre tapas e beijos comigo mesma, fiz tudo que pude para evitar uma depressão pós-parto. Não é fácil lutar contra meus próprios demônios quando se mora longe de tudo e de todos. Mas não que a distância faça alguma diferença. Eu já disse que sou do tipo “fechada” e, mesmo se morasse no Brasil, do lado da casa da minha mãe e dos meus amigos, não faria diferença. Estar mal não escolhe lugar. Tanto aí quanto aqui, todos temos tendência a ficar meio lelé da cuca de vez em quando. E tudo bem!
Seja no pós-parto, seja após uma demissão, seja decorrente do uso de algum remédio, estamos todos muito propícios a ficar mal. Sair do estado doloroso e sorrir para a vida, é que é o ponto de virada. Nesses meses após meu segundo parto é que comecei a ver que todos passam por seus problemas, estresses, todos têm as suas dores. Uns lidam melhor, outros precisam de ajuda. Eu mesma tive vários momentos nos quais não via uma luz no fundo do túnel.
Não temos que dar conta de tudo sozinhos
Buscar ajuda profissional faz toda a diferença, vai por mim. No meu caso, porém, tenho a sorte de ter uma personalidade otimista, e acredito muito no meu próprio jeito de solucionar as coisas. Sou curiosa e pesquiso muito, e acabo me controlando para não cair em um estado depressivo mais crítico. Sou forte e tenho o suporte do meu marido e uma rede de mães que estão no mesmo barco que eu. Mas novamente tirando o foco de mim, como eu disse: não tenho a receita.
Contudo, voltemos ao “estamos todos doentes”.
Estar doente significa que tem algo dentro de você que precisa de atenção. Do latim dolentia, dolentiae, quer dizer dor. Quando temos dor, tendemos a buscar um jeito de acabar com aquela sensação que incomoda. Cada um de nós sente algum tipo de dor ao longo da vida. Uns sentem todos os dias, outros só de vez em quando. No entanto foi só depois de crescer, mudar de país e virar mãe é que fui ver o quão todos estamos doentes. O quão é intrínseco a nós, seres humanos, batalhar diariamente para sobreviver. E a batalha machuca.
Não queremos sentir dor, isso é fato. E passamos a vida toda tentando, de um jeito ou de outro, acabar com aquilo que nos incomoda. Infelizmente não tenho uma receita mágica que acabe com todos os nossos problemas. Sei que amar e ser amado, respeitar e ser respeitado, apoio profissional, pensamento positivo e muita oração, são uma pequena amostra do que podemos fazer para aliviar a dor.
Seja qual for a sua dor, não se esqueça: apesar de estarmos todos doentes, como afirmo no título deste texto, sei que há sempre uma luz no fim de qualquer túnel. Basta ter coragem de chegar até o outro lado. Uma vida cheia de luz para você e até o próximo texto!
“Be kind, for everyone you meet is fighting a hard battle.” "Seja agradável, pois todo mundo que você encontra está lutando uma batalha bem difícil."John Watson
Fotos: Pixabay
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