A tendência do ser humano é acreditar que o seu pior lado é o mais verdadeiro. Uma das representações mais bonitas que eu vi dessa observação foi na série The Walking Dead, quando um dos personagens, totalmente perdido na nova realidade planetária, sucumbe à maldade que reside em seu coração.
A assustadora sequência de atos violentos só é interrompida quando alguém, com muito esforço e paciência, consegue provar o que hoje para mim é tão óbvio: somos o lado de nós mesmos que escolhemos alimentar. Não é uma ideia inocente de quem não aprendeu sobre a malícia do mundo.
É mais ou menos como naquela parábola dos dois lobos que vou reproduzir aqui:
Certo dia, um jovem índio cherokee chegou perto de seu avô para pedir um conselho. Momentos antes, um de seus amigos havia cometido uma injustiça contra o jovem e, tomado pela raiva, o índio resolveu buscar os sábios conselhos daquele ancião.
O velho índio olhou fundo nos olhos de seu neto e disse:
“Eu também, meu neto, às vezes, sinto grande ódio daqueles que cometem injustiças sem sentir qualquer arrependimento pelo que fizeram. Mas o ódio corrói quem o sente, e nunca fere o inimigo. É como tomar veneno, desejando que o inimigo morra.”
O jovem continuou olhando, surpreso, e o avô continuou:
“Várias vezes lutei contra esses sentimentos. É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não faz mal. Ele vive em harmonia com todos ao seu redor e não se ofende. Ele só luta quando é preciso fazê-lo, e de maneira reta.”
“Mas o outro lobo… Este é cheio de raiva. A coisa mais insignificante é capaz de provocar nele um terrível acesso de raiva. Ele briga com todos, o tempo todo, sem nenhum motivo. Sua raiva e ódio são muito grandes, e por isso ele não mede as consequências de seus atos. É uma raiva inútil, pois sua raiva não irá mudar nada. Às vezes, é difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito.”
O garoto olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou: “E qual deles vence?”
Ao que o avô sorriu e respondeu baixinho: “Aquele que eu alimento.”
Luz e sombra
O homem não guarda em si só luz e nem apenas sombra. Somos um apanhado disso tudo ao mesmo tempo e agora: egoístas, gananciosos, maus e inconsequentes, mas também amorosos, altruístas, bons e conscientes. O que vai sobressair? A escolha é de cada um.
É por isso que o caminho mais próximo para o fundo do poço é negar a nossa natureza, tentar camuflar nossas características indesejáveis. Reprimir quem nós somos é o mesmo que alimentar o nosso lado doente. O que mais me prejudicou quando iniciei a terapia foi não aceitar a minha natureza imperfeita. Quando menos aceitava, mais a alimentava inconscientemente. Resultado: parei de me revoltar com a imperfeição.
O desejo de melhorar como ser humano tem, necessariamente, que levar a aceitar a própria personalidade como é neste momento, já lembrava Eva Pierrakos no livro “O Caminho da Autotransformação”.
Se esta premissa básica for a principal força orientadora de sua motivação para a perfeição, qualquer descoberta daquilo que o impede de realizar os seus ideais não o lançará na depressão, na ansiedade, na culpa, mas antes, o fortalecerá.
Abordagem do corpo
Nestes últimos anos a principal abordagem que tenho estudado para expressar o meu lado negativo de uma forma segura é a corporal. Nem sempre é fácil digerir as imposições da sociedade, as raivas e frustrações. Até porque muitas vezes esses sentimentos são criados por nós por causa da imaturidade.
E toda essa carga negativa que vamos acumulando aos longos dos anos ficam impregnadas em nosso corpo. Pela mente eu ficava em dúvida em relação ao sentimento que nutria por algumas pessoas. Mas o corpo dá todas as respostas. Quando veja alguém que não gosto meu coração dispara, sinto uma pontada no estômago e meu corpo inteiro se fecha. Da mesma forma consigo sentir no meu corpo toda vez que um sentimento negativo surge.
É preciso expressar de alguma forma essa negatividade para que ela não fique aprisionada no corpo. Para quem ainda está tateando nesse universo, recomendo para expressar a raiva atividades vigorosas como a corrida e a luta. Para ajudar a ficar centrado ao longo do dia, a yoga é sempre um delicioso caminho.
O que não dá é para deixar as toxinas entrarem nas artérias e por lá ficarem. Isso adoece o corpo e a alma. Apenas experimentem expressar pelo corpo, com o cuidado necessário, e sintam a diferença.
Aos poucos vou falando um pouco mais sobre isso no blog. Até a próxima!
Fotos: Pixabay
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