Nunca fui dessas pessoas que acreditam que a felicidade é algo pleno e eterno nas nossas vidas. Existem momentos bons e momentos ruins, lidar com eles é necessário. Mesmo com todas as habilidades que você tenha para jogar o jogo do contente, vai chegar o dia em que você vai precisar se desmontar. Até mesmo Pollyanna* - musa soberana desse jogo lindo - teve seu momento de queda.
Quando a gente lida com uma pessoa depressiva, muitas vezes é a fonte de força para ela lidar com a doença. Ouvi inúmeras vezes que preciso ser forte para que meu marido se cure (ou se recupere) da depressão. Eu, uma mísera mortal cheia de amor e que é a única pessoa presente quando as crises dele dão as caras. Eu, que nem médica sou (mesmo com todas as maratonas de Grey’s Anatomy que fiz na vida).
Situações como essas podem ser consideradas o nível mais difícil do jogo do contente, a fase do “chefão”. E nem sempre eu ganho. Mas, o que significa ganhar neste caso? Não chorar? Não ficar tocado pela dor alheia?
Se isso é ganhar, então eu já estou na zona de rebaixamento do jogo do contente. Sou libriana demais para agir dessa forma (sim, eu sou a "loka" dos signos). Quando o marido tem crises, claro que eu dou todo o suporte necessário para ele. Mas, quando eu tenho meu momento para chorar, eu choro.
Na terapia, a gente aprende que o corpo humano é inteligente demais para ser enganado. Quando ele sente a necessidade de chorar e isso não é atendido, ele pede de outra forma. Pode virar uma fúria em um momento inoportuno, uma mania, um hábito ruim ou qualquer outra coisa. Portanto, segurar o choro não é um gesto de força; é um ato nocivo para o corpo e para a mente.
Não somos força o tempo todo, não somos seres viventes em um mundo feliz. Somos humanos que têm momentos de alegria, de tristeza, de paz, de guerra. E como seres humanos, devemos respeitar o que somos. Nos permitir chorar, sermos vulneráveis, é uma forma de demonstrar esse respeito. É também uma forma de garantir que a gente não surte depois. É um meio que o nosso corpo encontra para nos deixar mais dispostos para encarar os desafios que virão.
Permita-se chorar, permita-se ter pausas. Elas são importantes para seguir adiante. Acredite!
* Pollyanna é um livro escrito por Eleanor H. Porter e conta a história de uma menina pobre que vai morar com a tia ranzinza e mostra como é possível ressignificar os momentos ruins, aproveitar os momentos bons e ser mais feliz. Se você não leu, recomendo! A história de Pollyanna é narrada nos livros Pollyanna Menina e Pollyanna Moça.
Foto: Alexas_Fotos | Pixabay
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